Do que tenho visto no quintal: as últimas mangas, novas acerolas tímidas, as folhas das mangueiras a virar adubo, a horta crescendo devagar, o galho quebrado do pé de seriguela se multiplicando em novos galhos, raízes e vida. E cigarras, tantas cigarras. Há uma galeria de suas múmias, exosqueléticas metáforas. Zé acreditava que elas cantavam, cantavam, cantavam até pocar. Achei curioso e trágico, mas também intenso e belo: cumprir a missão, a despeito do resultado fatal. Aquele "apesar de" lispectoriano . Descobri, entretanto, que era apenas transformação, que elas deixam suas cascas secas e marrons, renascem verdejantes e seguem com a cantoria aos crepúsculos. Assim segue a orquestra afinada desse quintal, entre bodes, sapos, pássaros, cães, ânsia de gritos, silêncios e transformações.
Da saudade
Ontem revi umas partes de Central do Brasil. Péssimo/ótimo filme para se ver quando se está com as emoções à flor da pele. Tantas belezas. Os laços que se formam. Os que se quebram. Esperanças. Desilusões. O sertão, minha gente, o sertão. A cena da reza, pessoas cheias de fé. Eu tenho uma certa inveja de pessoas com fé inabalável, e tenho uma admiração sincera por pessoas que rezam. Já fui de rezar. Gostava muito. Não sei direito o porquê, mas um dia parei. Mas acho que toda reza é bonita. É a palavra exercendo um dos seus maiores poderes. Acho que a palavra tem alguns super poderes, entre eles: a reza, o elogio, a ofensa, a intriga, a conciliação. Penso em retomar o poder da reza, de alguma forma que nem é necessariamente "religiosa".
Mas o que me tocou mesmo, e nem sei como eu não lembrava dessa cena, é a carta de Dora a Josué. No final da carta, que é linda por completo, ela diz: "sinto saudade de tudo".
Sou dessas. Sinto saudade de tudo. Até de mim.
haiku #1
an ever colder yard
much I wish to bury, still
squirrels forever dig
War, peace, damage, and healing (or life, liberty, and the pursuit of happiness)
I was debating if I should post about this or not, but oh well, it is something I feel compelled to share. Yesterday, my dear friends, I became a US Citizen! It has been a LOOOONG journey, of so many application forms, immigration appointments, sometimes unbearable anxiety, and a few ups and downs as a Green Card holder over the past 10 years. I thought the Oath ceremony was just going to be one more bureaucracy step I had to go through to end all this, a not specially memorable appointment like so many others I had already gone through. Little did I know I would be so overwhelmed. I had to consciously keep holding back tears the minute I left the house to drive to Philly (a concern that, according to my very wise and practical sister, I will never again experience once I get some water-proof Mary Kay eyeliner from her!).
Eventually, mid-ceremony, I couldn't hold back those tears any longer. A whole film started playing in my mind, as if I had pressed play on a Google Glass documentary of my life since 2005: bittersweet scenes of the first departure, saying good bye to my family at the airport in Bahia -- my mom so silent, pale, with slightly smeared red lipstick and an incredulous and fearful look in her eyes, and my brother nervously handing me a scrunched note that shared the as yet secret news that he was going to be a father; the excitement and love I felt when I first arrived in Allentown; the insecurities and fears; the joys and the tears; seeing the house become a home; the beauty and novelty of the first Spring; the painful experience of the first Winter; the early years getting acquainted with the subtleties of building and living a life where you are not from (something that only Martinelli could write so well about, in case you dare to read Portuguese); the many Monday nights at The Jazz Gallery, as a fly on the wall; driving cross-country just to watch a boxing match; the bonds created and the ones that have been broken; the solitude I have often felt (still do), but also the sweet friends I have made; the life coaches and mentors, whether they are aware of their role as such or not; missing people and situations and feeling that I had been missed; the loved ones with whom I would be so very eager to share these good news, but can no longer reach with a phone call (Adélia, Orlando, Wilma...). "Ain't that something?"
[...come on, USCIS, start sending water-proof eyeliner along with the appointment notices, will you?!? ]
Mind you, the ceremony had already included a welcome video with a seemingly teary-eyed Obama <3, and another one filled with "music-to-make-you-cry" and faces of overjoyed people from around the world, from little kids to elders, holding their certificate and waving their tiny flags in their own naturalization ceremonies. Adding to all that, while I gazed at one fixed point of the screen in hopes that my tears would become somehow invisible, I could hear so many people around me also crying timidly, women and men, and thought of how all of them were probably also reliving their own stories. I kept imagining what they (and their family) have gone through to be there, what they might have left behind to move in the direction they are moving.
The room was filled with people from 35 different countries: Iran, Bangladesh, Mexico, Iraq, India, Japan, China, Ukraine, Ethiopia... to name the few I remember. I have had my personal dramas over the years, here and there, some more overwhelming than others, but I can't say I had a difficult ride, in the sense that I had all the material resources/support I needed, I am healthy and safe, and at all times I have always had a roof over my head, good food, great friends, and a great family that is also mostly healthy and safe. Those are part of my basic needs, and I have always been covered on those ends. I am very thankful for that. But I wonder about the people who have migrated from all those different countries, for reasons others than love: the ones hoping for a better life for their family, striving to build something that will help support their loved ones for generations; the ones trying to fulfill professional or personal goals and dreams, whatever they might be; and the ones fleeing from fear, hunger, war, disasters, despair.
Each of us are part of different communities, and as part of those communities we struggle with issues that may not be recognized as valid or important for members of other communities. Now, for example, we are so angry and eager to post against acts of terrorism here or there, and tragedies close or far, stressing how one should be seen as more tragic or important than the other, quick at finding who to blame for what. Meanwhile, we have the most powerful tool for the change we so wish to see: ourselves.
We are the only ones whose actions we are indeed in control of, if that. I am all for social media activism (I place myself in that category), for being a member of political parties, civil societies, religious groups, and all that. But while I am definitely a gregarious being, and each year more certain of that, I have an enhanced understanding that change comes only from and through individuals. For that, it is very important to constantly remind ourselves to look in the mirror, and looking at ourselves in the mirror can be very very painful and suffocating.
It is important to be active in helping others with the means and abilities we have. And it is equally important to be careful about not hurting others, being aware of what we have done to hurt others (and we all have, let's be honest!), and doing the best we can to help them heal. Most tragedies we condemn -- with profile flags and memes and endless arguments with those who think differently -- have started and ended the same way: with human beings that have been hurt, one way or another. Maybe as a start we could pledge not to add insult to injury. How in the world are we supposed to fix damage with more damage?
somos todos humanos e outros blá blá blás
Este post, com alguns dias de antecedência, é para você que vai começar a postar que não devia existir um dia da Consciência Negra, que devia ser dia da Consciência Humana, que somos todos iguais, e coisas afins. Como prefácio, gostaria de tomar a liberdade de auto-referência e me-auto-samplear-a-mim-mesma:
Dito isso, quero pedir-lhes encarecidamente que permitam que esse dia exista, e que a gente o celebre com o nome que lhe foi dado, tá? Ele não invalida de forma alguma o fato de sermos todos humanos. Posso estar sendo repetitiva, me perdoem se todos já sabem disso, mas no dia 20 de novembro comemoramos o dia da Consciência Negra no Brasil porque foi num 20 de novembro, em 1695, que morreu Zumbi dos Palmares, uma figura deveras importante para os negros brasileiros, um símbolo de resistência e...olha lá...consciência. Porque só é possível resistir, reivindicar, lutar e mudar a própria situação quando estamos conscientes de quem somos, como nos vemos, o que queremos e como queremos ser vistos e tratados. Daí o Dia da Consciência Negra, entende?
Então, gente, deixa a pessoa celebrar o dia da Consciência Negra em paz, tá? É importante. Acho que uma parte de vocês não se dá conta de como é legal para as crianças negras, por exemplo, se reconhecerem em personagens fortes, positivos, guerreiros, valentes, bonitos, de falarem e descobrirem sobre a própria história, trocar ideias de empoderamento, etc. Tudo isso acontece nos eventos e atividades do 20 de novembro, caso vocês não saibam. É mais importante que qualquer celebração do pseudo-fim da escravidão no 13 de maio. É certamente mais importante do que celebrar tudo isso que a gente celebra sem pensar, com festa ou sem festa, feriados que a gente nem sabe o nome ou a razão, aqueles dias em que apenas ficamos felizes por não ter que trabalhar (quem nunca?). E nem importa se o 20 de novembro é feriado ali e não aqui ou acolá, isso realmente não importa. É tão maior que isso...
Então dá licença, pois chegado o dia 20 de novembro eu quero celebrar linda e afro a minha consciência. Negra.
E ainda proponho o seguinte: em vez de compartilhar os velhos memes de "dia da consciência humana" e outros blá-blá-blás, seja um ser humano consciente da sociedade em que vive, e das imensas desigualdades dessa sociedade, e poste sobre personagens importantes para a comunidade negra. Grata.
Um infográfico
Uma pesquisa / A survey
Queridinhos e queridinhas, sejam legais e participem anonimamente dessa pesquisa curtinha que contribuirá para um projeto que quero colocar em prática.
Obrigada!
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Dear friends, be super nice and take this short survey, anonymously, that will help inform a future project that has been brewing on my mind.
Thanks!
era uma vez uma farda, uma farda era uma vez
Sabe aquele costume de escrever na camisa da farda dos colegas ao final de cada ano? Meus pais não gostavam muito disso, porque era bem econômico poder reaproveitar a farda no ano seguinte... Mas houve um ano em que estudei numa escola meio cara, na esperança de uma bolsa de estudos que nunca rolou, e como sabia que no ano seguinte não usaria aquela camisa novamente deixei todo mundo autografar e deixar mensagens, inclusive alguns professores. Era a quinta série, turma H, do Colégio Drummond. Sônia, uma das minhas professoras favoritas (de Português/Redação), que sempre me dava carona no seu Fiat que um dia infelizmente foi furtado, escreveu algo que naquela época achei bem idiota para uma professora de redação; levei alguns anos para compreender que, além de ser uma citação de Vinícius de Moraes, aquela era uma lição bastante importante para a vida: "é melhor ser alegre que ser triste".
Obrigada, Prof. Sônia. Jamais te esqueci.
to Petronilha (aka grandmama)
petro is a big fat lipped ghost, naked in the backyard
moles all over brown skin
fruits from trees, truths from air
wife of bessa; midwife first and foremost,
she who delivered plenty…
that ghost named like blackness and oil, naked in the backyard.
she who tastes like cranberry jam
she who wasn’t welcome.
she who was needed.
she who gave mom the weak and strong heart
she, the intuitive
she who gave me bittersweet love for crepuscules and ave marias
to which I cry, still.
i like ghosts: they’re gods.
beware of backyards, where ghosts thrive in trees
in birds chants
in jasmin flowers
and the healing powers of aloe vera and pitanga leaves
beware and love backyards, where ghosts live
on snakes hidden in stumps
and frogs, and termites, and sunsets and sunrises
beware and pray for backyards
where oxum lives in streams
oxossi reigns
and nanã walks around, naked.
each should have a yard
where guava trees hold strong swings
to watch spring and fall come and go
at night
the rabbit who inhabits the yard
its bunnies following in the darkness…
I watch them, envy them.
she, unconscious of me, going about her duties of feeding and care.
they, protected by her,
growing through darkness and flare
each should have a yard, to watch these naked beings.
I like gods: they are ghosts.
*first published @ http://thosethatthis.com
Nu Quintal #1
Da janela vejo vagalumes.
Vagas luzes voam e
vez ou outra da janela sonho
multidões.
Cento e tantas tintas.